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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Viva o Gordo!

Era uma vez um gordo que andava muito chateado com sua auto-estima.

Como é de praxe, a maioria das pessoas utiliza algum tipo de vício para aliviar a dura realidade da vida, cheia de perdas e sofrimentos.

O meu vício preferido é engordar, exclamava nosso simpático herói. Tão logo o cotidiano começa pesar, esmagando a esperança e sufocando minha paz, lanço mão de uma boa dose de calorias. Tenho plena consciência do efeito paliativo dessa droga chamada açúcar, que aumenta o teor de catecolaminas no cérebro, produzindo bem estar. Todo vício, além de não conseguir transformar a realidade, apresenta efeitos colaterais desastrosos. A banha temporariamente absorve a energia ansiosa do gordo. A gordura lubrifica a alma. O tecido  adiposo amortece a dor da angústia. O obeso, protegido por um grosso edredom de lipídios, continua tentando adoçar a boca de sua auto-estima, até que é lembrado pelos seus amigos sobre sua imagem disforme e antiestética e pelo perigo que ronda suas artérias. Nesse momento, cai na real, desiludido pela nova situação que se une com a velha para espezinhá-lo. Triste, ele pede colo à auto-estima. Surpreso, a escuta responder:

Eu bem que gostaria de poder pegá-lo no colo, mas você está muito gordo e pesado! Eu jamais conseguiria ergue-lo e, mesmo se conseguisse, não teria forças para segurá-lo por muito tempo! Com isso, você correria o risco de se espatifar no chão e me levar junto! Por outro lado, o correto seria você me levantar, uma vez que sou eu quem anda rastejando por sua causa! Portanto, trate de emagrecer, ou nada de colo!

Perplexo e triste, nosso meditabundo gordo, agora entregue à  própria sorte, começa fazer dieta. Algum tempo depois, consegue emagrecer, tornando-se esbelto e sarado. De bem com a vida e feliz, se dirige a uma igreja para agradecer a benção alcançada. Lá descobre o poder da oração, o fascínio da comunhão, o prazer dos rituais, e vai ficando. Seu único problema é que ele não sabe interagir de forma equilibrada com sua fé. Desloca pouco a pouco, com obsessão, seus problemas mal resolvidos, infantilizando sua relação com Deus. Acaba, sem perceber, de criar novo vício! Com o passar do tempo começa se sentir alienado e vazio. Tomando consciência do efeito paliativo da sua fé egoísta, abandona a religião.

Começa fazer dezenas de cursos, congressos, simpósios, aperfeiçoando seu talento profissional, e enterra a cara no trabalho. Ainda não são seis horas da manhã, lá está ele trabalhando. Já passa de meia noite, lá está ele labutando. Torna-se rapidamente bem sucedido, rico, famoso. Embriaga-se com o próprio sucesso. Alimenta seu inflado ego de prazer.

Mas... começa perceber que já existem problemas no paraíso. Sua família, cansada de abandono e frieza, se manda, levando seu chão junto. O dinheiro perde sua serventia. Ele já não serve pra comprar seus sonhos. Naufraga também no seu poder de negociar com a esperança. Inicia, com isso, sua longa jornada de volta a realidade. Abandona o interesse pelo trabalho. Tudo o chateia. Tanto o prestígio quanto o status o incomodam. Acossado pela saudade, que insiste em puxá-lo para o vazio, descobre um novo remédio: O álcool. Passa os dias afogando suas mágoas, evitando o real a todo custo. Bebe para esquecer os problemas até transformar a bebida no seu principal problema. Descobre, mais uma vez, ter trocado um vício por outro. Com o efeito paliativo do álcool, tenta embaçar suas frustrações, mas essas brilham ainda mais, frente aos efeitos colaterais da bebida. Seu médico, farejando uma cirrose, o aconselha parar de beber. Ele entra nos alcoólatras anônimos. É persistente. Luta desesperadamente e vence o vício nefasto. Troca cada gole por uma bala. Negocia cada trago por um chocolate. Substituí cada garrafa por uma pizza. Volta engordar. Mas, finalmente, sorri.

Bem vindo à obesidade! Tanto o álcool quanto o açúcar apresentam a mesma estrutura molecular! Ambos nascem da cana. São irmãos de sangue. São parceiros no vício.

Nossa rotunda criatura retorna ao seu ponto de partida. Reencontra seu centro de equilíbrio. Volta trabalhar com moderação. Busca na fé, uma relação madura e sadia. Toma até uma cerveja de vez em quando. Faz as pazes com seu peso. Aprende não dar muita bola para sua auto-estima. Queixa-se pelo fato dela ter criado esse ciclo vicioso. Suplica que ela nunca mais tente retirar as estacas que sustentam seu edifício emocional. Sabe que possui mil qualidades, mas tem medo de que, retirada aquela estaca com defeito, sua estrutura venha a desabar! Também teme que, caso seus demônios o abandonem, seus anjos também lhe deixarão!

Hoje, pela manhã, ouvi quando o gordo olhando no espelho disse:

Prezada auto-estima! Não precisa mais me pegar no colo; eu já consigo fazê-lo sozinho!

Foi gratificante observar aquela silhueta, magra, linda e esbelta, de sua alma, refletindo no espelho!

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Afrodisíaca Praia da Costa

O que os olhos não vêem, o coração não sente! Puxa vida! Quem nunca esgarçou as fímbrias do músculo cardíaco ao ver sua ex-namorada, linda e toda cheia de si, enroscada nos braços de um novo, desconhecido e, para nós, repelente grande amor?! Essa cena alimenta o ego de desespero.

Deixemos porém o cotovelo dolorido de molho no passado e vamos retornar aos sonhos diários. Que a Praia da Costa é afrodisíaca pela sua própria geografia, todo mundo sabe. Que nela respiramos um ar de romantismo, toda gente percebe. Para abastecer os corações apaixonados, surgiram casas noturnas, barzinhos, restaurantes, boates, etc.

Semana passada, após ter hibernado dois meses, lambendo feridas afetivas, me alistei na Legião dos Notívagos e parti para luta. Convidei uma deslumbrante “gata” para jantar.

Com o intuito de impressionar a “presa”, nos entramos num charmoso e elegante restaurante localizado na orla. Em cada mesa brilhavam velas acesas, envoltas por sensuais rosas vermelhas. Um sensível pianista descascava uma melodia romântica sobre o teclado. Casais trocando segredos, juravam amor eterno.

Inebriado de entusiasmo, envolto naquela aura de emoção, ansioso por demais para sacramentar a conquista da “lebre”, tentava, imerso em meus pensamentos, frear o ímpeto da empreitada, lembrando que a ansiedade é prima da precipitação e a precipitação é irmã do fracasso.

Em dado momento ouvi a princesa falar: Sabe João?! Eu gostaria de te dizer uma coisa!

Exultei! Meu Deus! Será que ela vai confessar que está me achando magnânimo? Atraente? Especial? Por ventura, meus ouvidos vão ouvir a doce vitória da paquera, embutida na frase: Acho você uma pessoa interessante! Estou adorando a noite! Sua presença é maravilhosa! Será?

Retornei rapidamente dos recessos labirínticos da mente, onde tropeçavam meus bêbados pensamentos e indaguei: Vamos, fale!

Ela calmamente verbalizou: Sabe, João! Acho que estou ficando doida!

Jesus do céu! Como é lindo ouvir as trombetas da glória! Ela está apaixonada por mim! Que bom! O amor faz a gente se sentir meio louco, insano! A paixão não bate com a lógica. Eu compreendo, linda princesa, sua preocupação com essa loucura! O sonho trava as diretrizes do real! O torvelinho do sentimento tonteia! (Êta bichinho pra falar bonito!)

Mas conclua, doce menina! Você está ficando louca?

Sim, ela respondeu. Acho que eu enlouqueci ou a alface no seu prato está andando!

Perplexo, olhei para baixo e lá estava uma cabeluda lagarta carregando nas costas o verde objeto do seu desejo.

Passei um bom tempo fitando aquela cena. Enquanto o tal bicho comia minha salada, murchavam minha esperança e meu apetite.

Ao levantar os olhos, notei aquela linda mulher me olhando. Sorrindo, disse: Não fique triste João. Quem não fracassou ainda, foi porque não foi criativo o suficiente nem para fracassar.

Parabéns! Você já fracassou!