A esperança de continuar existindo
Estamos avançando 2013. Que seja um ano venturoso. Que a esperança e a ansiedade, essas duas filhas do tempo, continuem brigando; mas que a esperança sempre vença. A ansiedade, irmã mais velha, adora bater na caçula e, por vezes, sai ganhando. Visite a enfermaria de um hospital e lá você verá o imbróglio diuturno travado por essas duas hóspedes do espírito. Enquanto uma espera, a outra desespera.
Pacientes, ao receberem alta, carregam um aquecido otimismo nas malas e um brilho de esperança nos olhos. Doentes, ao permanecem na expectativa de melhora, dormem sobre o leito morno da angústia, labutando o penoso desafio de tentar fazer a morte fugir. Muitos conseguem e se curam.
Outros são levados pela morte durante sua fuga. Outros, ainda, permanecem no limbo frio em que se esconde a doença, que não ataca, mas também não vai embora. Nesse mundo, onde tudo é tão efêmero e apressado, onde prazeres e conquistas formam a ordem do dia, onde a paciência e o estoicismo não tem prestígio, falar sobre cuidados paliativos é encarar nossa própria fragilidade. Em determinadas situações, cabe ao médico observar que, não importa o que ele fará; aquele paciente ou ente querido irá morrer.
Nesse instante ele igualmente se depara com sua própria verdade: ”Eu também vou morrer!”. Numa sociedade onde prevalecem valores como status, dinheiro, beleza e juventude, onde buscaremos força, confiança e sabedoria para enfrentarmos o senhor da morte? Pergunte para Deus! Falar sobre os cuidados paliativos é aceitar que a morte faz parte da existência, um processo natural e que deve ser amparado e cuidado com o nascimento, a infância e a velhice. Na medicina existem situações em que jamais devemos abreviar a vida e nem postergar a morte.
Doenças degenerativas, mutilações, cânceres, demências, entre dezenas de tantas outras patologias incuráveis, necessitam de cuidados paliativos importantes no combate à fadiga, dor, depressão, torpor, ansiedade, prostração, anorexia e enfraquecimento, esses torturantes ornamentos do sofrimento. Todavia, jamais devemos esquecer-nos dos aspectos espirituais e religiosos que devem ser abordados numa visita médica.
Atravessando esse sombrio período, o paciente permanece atolado nas questões mais importantes da existência: Qual o sentido da vida? De onde viemos? Para onde vamos? Essa realidade imaterial pertence ao mundo da transcendência e do mistério. Quando o médico se depara com um paciente terminal, muitas vezes ele escuta: Doutor! Não perca muito tempo com o meu cadáver, dê mais atenção à minha matéria prima! A vida é uma doença, o sono é o paliativo e a morte é o remédio! Vivos são mortos de férias, por esse motivo, necessitamos tanto da esperança para continuarmos vivendo. Se você, meu caro leitor, anda transladando teus sonhos para 2013, com o peito estufado de saúde, com o sorriso mastigando deleite, com a alma cheia de aspirações, visite um nosocômio.
A esperança que o ser humano tem na eternidade em outro mundo resulta-lhe do desespero que sente por não ser eterno naquele onde está. Divida com ele, também você, meu nobre colega médico, tua ciência, tua consciência e teu humor, despertando a criança que mora dentro dele, pois criança jamais tira folga de ser criança e feliz. Destarte, juntos iremos curar às vezes, aliviar muito frequentemente e confortar sempre.