Col_JoaoGd

Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Eu também quero um beijo

Quando um Jornal local me con

vidou para fazer uma matéria sobre Hipertensão Arterial, eu não imaginava que aquela tarde seria palco de acontecimentos tão inusitados.

Mal eu tinha acabado de atender meus pacientes, a jornalista ligou avisando que já havia chegado, e estava me aguardando, no Terminal de Ônibus, local onde eu iria gravar a entrevista, enquanto examinaria alguns passageiros.

Mal estacionei o carro, observei e ouvi um cidadão, debruçado no balcão de uma peixaria ao lado, perguntar ao vendedor:

- Quanto é o quilo desse peixe?

- Quarenta e oito reais.

- Quanto?!

- Quarenta e oito reais.

- Eu não gosto desse peixe!

Entrando no Terminal, fui reconhecido por um paciente acompanhado pela sua esposa, que vieram logo me cumprimentar: Como vai, Dr. João, tudo bom?!

Afirmando que comigo estava tudo bem e lembrando que aquele cliente estava enfrentando sérios problemas de alcoolismo, perguntei para sua companheira: Ele está conseguindo parar de beber?

Ela respondeu: Beber! Ele agora está passando Álcool Gel na torrada.

O papo foi interrompido pela cinegrafista do jornal, que me chamava para tirar algumas fotos, enquanto eu ia medindo a pressão arterial de um transeunte. Apressei-me e fui logo puxando o Esfigmomanômetro e o estetoscópio da maleta. Imediatamente, como num passe de mágica, ninguém sabe de onde, surgiram dezenas de senhorinhas idosas que me envolveram, impedindo-me de sair do meio delas. Sentindo-me na pele de Osama Bin Laden, olhava e escutava elas gesticularem e gritarem: O Senhor vai medir nossa pressão, não é mesmo?!

-Claro! Claro! Não se preocupem! A mais velhinha delas gritou: Mede a minha primeiro, que o meu ônibus já está chegando.

Tomando os valores de sua pressão arterial, eu comuniquei aliviado que eles estavam normais. Antes de ela entrar no coletivo, dei um beijo em sua fronte e lhe desejei boa viagem. Voltei-me para a próxima vovozinha e também verifiquei sua pressão. Ao partir para minha terceira paciente, imediatamente ouvi da anterior: Eu também quero um beijo!

Verifiquei trinta e oito pressões e lasquei quarenta e dois beijos. Horas depois, eu acabei descobrindo que algumas daquelas maravilhosas criaturinhas haviam entrado na fila duas vezes.

Para elas, a velhice é a infância da imortalidade.

 

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