Evangelismo x Polêmica no JVV
A dois meses do evento que divide opiniões, o Jornal da Praia da Costa conversou com o Pr. Evaldo Carlos dos Santos, coordenador do “Jesus Vida Verão”, com intuito de proporcionar alguns esclarecimentos entre os leitores deste impresso sobre o evento. Torna-se necessário, antes de qualquer coisa, estabelecer algumas características desse projeto de cunho evangélico interdenominacional.
Há aproximadamente 18 anos acontece na orla da Praia da Costa o “Jesus Vida Verão” com o intuito de evangelizar principalmente o jovem, contudo, como menciona o próprio site do evento “no verão de 1992, surgiu a idéia de reunir esses jovens durante todo o mês de janeiro (...). Os primeiros cultos reuniram cerca de cem pessoas e já nessa época aconteceram as primeiras conversões (...)”, revela-se assim, a dimensão nos primeiros anos de realização deste projeto.
Com o passar dos anos observou-se uma mudança visível no evento: de um culto com cerca de 100 pessoas para um mega-show que atrai um público de aproximadamente 25 mil pessoas, nos seis dias (finais de semana) de evento durante o mês de janeiro. Juntamente com o crescimento do evento vieram os impactos típicos desse tipo de empreendimento: caos no trânsito, poluição sonora, danos ambientais (restinga e/ou vegetação nativa), entre outros. O que suscitou a indignação de moradores por se sentirem lesados pelo evento.
Caos no trânsito e Poluição Sonora
Segundo o Pr. Evaldo, a questão de reclamação relacionada ao trânsito não é real, pois o fluxo dos carros é normal, sem congestionamento. Isso pode ser constatado por documento emitido pela PMVV.
“Quem quiser ir lá filmar o evento, irá ver que não tem problema no trânsito”, afirmou o pastor.
Já em relação à poluição sonora, ele disse que tem utilizado recursos tecnológicos para diminuir o som para não incomodar os moradores próximos do local onde é realizado o evento. Além disso, a cada ano o palco é montado em localidades diferentes da praia.
Existe ainda, a questão dos padrões estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, pela norma NBR 10152 (Avaliação de Ruído em Áreas habitadas visando o conforto da comunidade) que indica para o horário da realização do evento 45 dB (quarenta e cinco decibéis) e neste ano foi registrado variações nos números medidos nos diferentes pontos de medição em frente e nas proximidades da realização do JVV. Com isso, foram documentados números superiores a 90 dB em alguns prédios.
Para o Pr. Evaldo, é impossível um evento na proporção do “Jesus Vida Verão” não emitir um som além do que é permitido pela norma NBR. Ele afirmou que um liquidificador quando é ligado em um lar transcende ao número permitido pelo órgão.
“Ninguém vai ficar surdo com um evento que dura 2h e 30 min. O “macro” (as pessoas participantes do evento) não pode se adaptar ao micro (os moradores que se sentem prejudicados)”, afirmou o pastor.
Porém, segundo dados da Sociedade Brasileira de Otologia, a exposição continuada a sons entre 100 e 120 decibéis já é suficientemente capaz de levar uma pessoa a sofrer perda auditiva e, os riscos de lesões começam a partir de 90 decibéis, que equivale a um motor de caminhão ou uma boa discussão.
Posição de alguns moradores e localização do evento
Quando se aproxima a realização do JVV nas areias da Praia da Costa, começa também a polêmica. Moradores indignados pela localização escolhida pela PMVV para a realização do evento sempre é motivo de um clima desagradável de desacordo no mês de janeiro entre as partes envolvidas. Pois, os moradores se sentem transgredidos por serem obrigados a conviverem com os problemas que vem junto de qualquer mega-evento, por um lado. Por outro lado, a organização do evento tem respaldo de duas leis: Lei Municipal nº 3867 e Lei Estadual nº 7862.
“O importante lembrar é que o evento é lei tanto Municipal, quando Estadual. Averbar a possibilidade hoje dele (o evento) não ser realizado é averbar de uma lei não ser cumprida.”, declarou o coordenador do evento.
Por conta disso, ano após ano, a situação persiste caracterizada a uma indignação e questionamentos de pessoas que não entendem o porquê nada é feito sobre a questão da localização do evento, e em contrapartida existem pessoas que vêem a situação como uma picuinha e perseguição religiosa, inclusive o próprio coordenador do evento.
“Acredito que essa situação é perseguição religiosa. As pessoas deveriam conviver pacificamente. A Igreja Católica bloqueia a Terceira Ponte para passar romaria e ninguém reclama. Ninguém reclama da manifestação cultural do carnaval baiano, onde as ruas são fechadas e o som é alto. As pessoas que não gostam são obrigadas a conviverem”, assinala o pastor.
“Existe um equivoco entre alguns moradores que moram na frente da orla da Praia da Costa e para alguns componentes da AMPC com relação ao espaço da praia. Eles pensam que o espaço da praia é deles, porque eles têm um imóvel na frente da praia. Os moradores demarcam espaços na praia, colocam traves para jogos, por exemplo. A praia é do povo”, conclui o Pr. Evaldo.
Em relação ao local onde o evento é realizado ocasionando todo esse impasse que insurge entre os moradores e os integrantes do evento, o Pr. Evaldo afirma que o evento é praiano e não tem sentido do mesmo ser realizado em outra localidade.
“Eu não vejo, por exemplo, a Prainha como lugar ideal para o tipo de evento que nós fazemos. Nosso tipo de evento não é característico para aquele local. Ele (o evento) é característico da areia, ele é característico do turista. Ele não tem a característica de ir para um parque de exposição ou autódromo, por exemplo”, argumentou o Pr. Evaldo.
Jesus Vida Verão: Ação Judicial
O evento é alvo de uma Ação Civil Pública (nº 0350010146328) movida pelo Ministério Público contra o Município de Vila Velha (que autoriza o local do evento) e data do final do ano de 2001. O processo tem o intuito não de extinguir o evento, mas de remanejá-lo para um local mais adequado atestando a inviabilidade física da realização do JVV nas areias da Praia da Costa.
No ano de 2002 teve uma tentativa de suspender o evento nas areia da Praia da Costa, porém dois dias antes da realização do show, o vice-presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Sérgio Bizotto, suspendeu a liminar em decisão de primeira instância.
Esse processo está tramitando e ao mesmo somam-se novos argumentos das partes envolvidas (PMVV, a organização do evento JVV, a AMPC que representa os interesses dos moradores).
Alguns trechos que são encontrados nos autos do processo:
“A realização do evento provoca um impacto urbanístico gravíssimo, violando o direito de ir e vir do cidadão e o que determina o Estatuto da Cidade, bloqueando um trecho da Praia da Costa, local de turismo intenso, principalmente, nas sextas-feiras e sábados.”
“A ação não visa a atacar o fim de evento, que é uma manifestação religiosa, mas tão somente, o local escolhido para a sua realização, sendo o bairro da Praia da Costa uma região estritamente residencial, e a realização do evento causa danos graves ao meio ambiente, transtorno urbanístico, dano à saúde, sossego e tranqüilidade dos moradores.”
Mesmo diante de provas (fotos, medição com decibelímetro, entre outros), negativas em relação ao JVV as quais podem ser constatadas no processo, essa situação não é alterada. Segundo o Pr. Evaldo isso acontece porque os argumentos contra a realização do evento são fracos.
Com isso, sobre a localização do evento para o próximo ano, pode-se dizer que não foi dada ainda a entrada para o processo de autorização concedido pela PMVV e o próprio Pr. Evaldo confirmou essa situação, pois o município se encontra em transição de gestão.