Col_JoaoGd

Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

Clique para acessar
Imprimir

Vila moderna

Apesar da melhor das boas intenções, claramente visível no semblante vitorioso do prefeito eleito de Vila Velha, preocupa-me ele ter dito que nossa velha vila brevemente será chamada Vila Moderna.

Educação, transporte, saúde; esses velhos e sempre lembrados chavões são imperiosamente necessários aos habitantes de uma cidade, mas poucos são os prefeitos que percebem a visível queda na qualidade de vida que o berço do Espírito Santo vem alarmantemente apresentando. O progresso é bom e necessário, mas, sem controle, tem deixado seus efeitos colaterais em nosso município, padecendo com prédios em excesso, carros em demasia, poluição sem medidas e violência desarvorada.

Todo ser humano quer ser imortal; alguns nas artes, outros na política, mas basta verificar alguns bustos nas praças para sentir seus pés de barro.  Suas quiméricas soluções, seus projetos grandiosos, antes soluções, hoje são problemas. A vaidade germina os grandes males do mundo, com o peso do passado e a miragem do futuro oscilando entre a ilusão suprema de viver na dimensão do projeto.

Difícil o eleitor que não é seduzido pela miragem de uma felicidade futura; e raro o político que pensa na qualidade daquilo que faz.

Se a natureza não é mais misteriosa, se ela não é mais sagrada, então nada nos impede mais de utilizá-la como quisermos. Ela se tornou uma espécie de loja onde os seres humanos podem se abastecer à vontade. Vale tudo. O progresso não tem outro fim além de si mesmo, de fazer usufruir. Desprovido de qualquer espécie de objetivo definido, ninguém mais sabe para onde o mundo nos leva. A lei vigente é progredir ou perecer vítima de quem progride. Estamos nos afastando do bom senso em nome do tal progresso. Embevecidos, nossos governantes assistem, praticamente anestesiados, às evoluções do mundo, mantendo o discurso de tudo melhorar, cheio de resoluções edificantes; mas sem efeito real sobre as situações. Já não olhamos mais para o relógio para verificar as horas, mas para verificar ”quanto falta”.

Talvez fosse o momento daqueles que seguram o timão do progresso pensar mais em equilibrar do que empurrar para frente.  A dinâmica da vida ensina que acelerar é tão prejudicial quando parar.

Eu desejo ao nosso novo prefeito, toda sensatez para fazer de Vila Velha, não uma cidade grande, mas uma grande cidade; não uma cidade de humanos, mas uma cidade humanizada, não uma cidade dinâmica, mas prazerosa. Afinal, de que adianta a chegada de tantas indústrias, a construção de tantos prédios, a circulação de tantos carros, a instalação de tantos shoppings elegantes; se temos mendigos para todo lado, ruas apertadas, motoristas estressados, trânsito caótico, ar poluído e pessoas assaltando e se matando?!

Antigamente, quando errava por entre as pitangueiras, coqueiros e cajueiros que vicejavam na exuberante floresta atlântica existente na Praia da Costa, eu tinha medo de animais e assombrações e dava graças a Deus quando ouvia passos de alguém que poderia andar juntos. Eu exclamava: Que bom, vou ter companhia!

Hoje, quando caminho pelas ruas pouco movimentadas, principalmente durante a noite, exclamo, com medo: Deus do céu! Vem vindo alguém!

Um progresso que transforma ”venha cá” em “alto lá” certamente deve merecer reservas na mente do nosso novo prefeito.

 

Adicionar comentário


Código de segurança
Atualizar