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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Panacéias contra a dengue

Continuamos assistindo ao avanço inexorável da Dengue. Carros aspergindo nuvens de fumaças que, além de tóxicas, combatem apenas parte dos alados mosquitos, esquecendo o ciclo da doença, não são eficazes. Após picar um indivíduo contaminado, o pernilongo guarda no seu aparelho digestivo o vírus que se reproduz e, alcançando suas glândulas salivares, passam para o vaso sanguíneo do hospedeiro saudável, perpetuando a epidemia. Acontece que, além do mosquito guardar o vírus dentro de si para toda vida, ele também o transfere para seus filhotes, via ovariana. Por essa razão, os ovos que permanecem latentes durante o ano, geram mosquitos contaminados. Assim sendo, deve-se combater também os depósitos de água, ninhos das larvas.

É muito comum as pessoas confundirem Dengue Hemorrágica com Dengue Clássica, devido aos sangramentos causados, em ambos os casos, pela baixa de plaquetas. Quando um indivíduo contrai Dengue, seu sistema imunológico pode reagir, matando o vírus e recuperando a saúde ou, paradoxalmente, através dos anticorpos, aumentarem a virulência da doença, provocando falência hemodinâmica e evoluindo para Dengue Hemorrágica.

Um aspecto dramático que exemplifica essa reação é quando o indivíduo contrai Dengue pela segunda vez. Como ele já dispõe de anticorpos produzidos para combater o primeiro caso da doença, pensamos que eles seriam úteis no segundo caso; o que lamentavelmente não ocorre. Ao invés de combater a infecção, esses anticorpos, aliados a produção de outros, amplificam o quadro clínico da doença.

Frente a esses paradoxos, nossos governantes não percebem serem necessárias medidas duras no combate a tão perniciosa patologia. Emílio Ribas em 1903 e Osvaldo Cruz em 1904, utilizando verba da fundação Rockfeller, conseguiram erradicar o mosquito da Febre Amarela, o mesmo que gera a Dengue, durante 58 anos.

Uma atitude simples e eficaz procedida naquela época era isolar o indivíduo contaminado, até que sua carga viral declinasse.

Por que ainda não existem remédios eficazes contra a Dengue?

Ao contrário de certas patologias virais que respondem razoavelmente aos antivirais, a Dengue apresenta uma curiosa resposta imune: Anticorpos produzidos por um quadro anterior de Dengue podem não neutralizar um segundo diferente vírus infectante e, muitas vezes, paradoxalmente, piorar o quadro infeccioso. Como existem quatro tipos de vírus, esse risco aumenta muito e dilui o poder terapêutico dos antivirais. Uma comparação pode ser feita com a gripe, cujo tratamento é também paliativo, embora exista vacina. Todavia, neste caso, todos os anos surgem cepas de vírus diferentes, necessitando que o indivíduo faça uso de nova vacina.

Recentemente foi lançado um medicamento contra Dengue, sintetizado por um laboratório italiano denominado “Mosquitan”. Esse produto serve apenas como repelente do pernilongo, agindo por um período de oito horas. Seu princípio ativo é a conhecida “citronela”, capim que exala um perfume penetrante, liberando, quando queimado, uma fumaça irritante para o mosquito. Apesar de isento de efeitos alérgicos, essa suposta novidade apresenta as mesmas propriedades dos repelentes tradicionais, cortinados, espirais e pomadas a base de piretróides.

Por que ainda não existe uma vacina contra a Dengue?

Apesar do empenho de alguns laboratórios; como o único hospedeiro do vírus é o ser humano, não se tem conseguido índices elevados do vírus nas cobaias, dificultando os ensaios.

Também existe o temor dos anticorpos da vacina aumentar a virulência da patologia, ao invés de atenuá-la. Tal situação vem sendo verificada nas pessoas que foram vacinadas contra Febre Amarela e contraíram Dengue. Os anticorpos daquela vacina aumentaram os sintomas da Dengue.

Enquanto cada cidadão não assumir seu papel no combate a essa traiçoeira doença, será “o fim da picada”, não querendo dizer com isso que o mosquito, suas larvas e seus vírus irão nos deixar!

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