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O triste destino da Avenida Champagnat

Passei exatos 15 anos escrevendo meus causos. Durante esse tempo todo recebi não mais que uma centena de e-mails enviados pelos leitores. Por isso levei um susto mês passado, quando uns 20 e-mails bateram de uma vez só no meu correio, fora os telefonemas e as pessoas que me pararam na rua para comentar o último causo. Todavia, o que mais chamou minha atenção foi que a maioria dos comentários não dizia respeito ao tema do causo, as agruras do Transcol, mas sim ao trecho que mencionava a mal sucedida reforma eleitoreira da Avenida Champagnat. Um leitor indignado chegou mesmo a sugerir a mudança do nome para Avenida Esburraqueira, o que, segundo ele, seria a forma mais apropriada de designar a insana combinação de buracos, burrice e poeira que transformaram a principal avenida da cidade num inferno sem fim à vista: “Existe muito prefeito burro por aí, mas igual esse Max nem na Sucupira de Odorico Paraguaçu!”

Não por acaso, um outro leitor, juiz aposentado, também colocou um par de orelhas em nosso ex-prefeito e foi além: “Começar uma obra de grande porte sem um planejamento decente, sem dinheiro suficiente em caixa, contra vários pareceres técnicos e, o essencial, sabendo que não é uma obra prioritária, havendo coisas muito mais úteis e urgentes a fazer na cidade, além de idiotice é uma tremenda irresponsabilidade!” Falei do e-mail do juiz com um amigo mestre de obras e ele não só concordou como deu um exemplo prático: “Aconteceu comigo. Um sujeito de Itapuã recebeu uma graninha inesperada e me contratou para refazer a fachada de sua casa. Queria uma fachada de mansão, bem luxuosa. Fui lá ver e não entendi nada. Por dentro, a casa precisava de pintura, um banheiro tava quebrado, os esgotos entupidos, a cozinha caindo aos pedaços. O lugar não precisava de fachada nova, precisava era de reforma interna e de umas grades pra aumentar a segurança. Fiz ver isso, mas o imbecil teimou em torrar a grana na tal fachada. Coisa de destrambelhado!”

Vale a pena relatar também, o e-mail de uma criativa leitora do Parque das Castanheiras. De acordo com a interpretação dela, o problema do ex-prefeito seria o mesmo do indigesto presidente Bush: “Os dois, Max e Bush, parecem ser daquele tipo de indivíduo que tem certeza messiânica de que o que acham certo é de fato o certo, ignorando e repudiando quaisquer opiniões ou conselhos em contrário. Faz sentido, todo sentido, se lembrarmos que Vila Velha foi mantida afastada do recente surto de progresso do Estado por pura picuinha política dos Max, Pai e Filho, com o governador do Espírito Santo. Quem pagou a conta da briga de “comadres”? Mais uma vez, nós, o povo.”

O povo e meu tornozelo direito, querida leitora.  Na noite de 16 de janeiro torci o tornozelo na calçada “esburracada” da Champagnat. Agora já estou bem melhor, obrigado, mas na hora doeu (sem trocadilho) pra burro! Pior devem ter sido as dores de dona Odete, uma velhinha que conheci na clínica de radiologia. A coitada ainda ficará três meses de cama com a perna engessada unicamente por também ter se aventurado a caminhar pela Champagnat. Inúmeros episódios semelhantes andam ocorrendo e em todos, acredito, o pior é a sensação de impotência, aquela raiva surda que angustia a raiva do nada-a-fazer-senão-se-conformar. É, porque sequer chamar a polícia adianta. Não vê o caso do PM que quebrou o pé num buraco correndo atrás do ladrão? E ainda tem o trânsito emperrado, os alagamentos, o lamaçal, a imundície e a... poeira. Gente, é poeira de fazer faxineira pedir as contas! Mal se limpa a casa e está tudo empoeirado de novo. Móveis, portas, paredes, nada se salva dos grãozinhos malditos! Não, não me mandaram um e-mail reclamando da poeira. Sinto-a na própria pele. Sou um dos sofridos moradores da Champagnat.

O pior de tudo, o que mais desanima, é que a obra está paralisada. Há infinitas versões para a paralisia e seria bom o novo prefeito vir a público esclarecer. Uns dizem que a prefeitura deve uma fortuna às empreiteiras, outros que tudo terá que ser desmanchado e refeito. Em nenhuma versão aparece uma luz no fim do túnel. Não votei no Neucymar Fraga, mas (por enquanto) ele não parece jogar no time dos destrambelhados. Espero que faça como o Barak Obama e desande a consertar rapidinho as besteiras do antecessor. Comece pela nossa avenida, Neucymar!

Antes de concluir, quero dizer que a coluna de hoje não tem nenhuma motivação política obscura e que nunca fui filiado a partido nenhum, tendo votado duas vezes em Max Filho, embora me arrependa e amargamente a cada pontada que sinto no tornozelo. É preciso deixar isso bem claro, para que depois ninguém apele para a esfarrapada desculpa da “perseguição política”. Eu é que me sinto perseguido pelos políticos, no que estou em boa companhia: o povo inteiro é perseguido por eles. Também não é minha intenção julgar o ex-prefeito, ainda que, pela dona Odete, ele merecesse se estrepar num dos buracos que deixou aberto. Julgamento, o povo de Vila Velha já fez, rejeitando sua administração com uma votação medíocre para seu candidato.

Que nem o Bush, é mais um que já vai tarde e sem deixar saudades!

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