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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Feliz Natal

O Menino Jesus tudo vê. Eu achava impossível acreditar nisso quando criança. Ver tudo queria dizer: observar tudo o que se passa durante nossa infância. Meus pais sempre diziam: seja bonzinho senão Ele diz para Papai Noel não vir!

Lembro-me um dia, véspera de Natal, lá estava eu embaixo do meu edredom, quando resolvi rezar. Entrelacei os dedos das mãos e orei escondido. Aí perguntei, olhando para cima, se alguém sabia da minha oração. Alguém lá de cima disse que eu parasse com aquilo, que ele queria dormir. Embora assustado, eu acabei por perceber que a resposta que vinha lá de cima não era do céu, mas do meu irmão, que dormia no beliche de cima. Pois até hoje, quarenta e tantos anos depois, não obtive resposta nenhuma de que o Menino Jesus tivesse visto eu, debaixo do edredom, rezando. E se alguém vier dizer que Ele viu, vai cair sentado. E se o Menino Jesus também disser que viu, também vai se dar mal. Porque o que eu estou contando é mentira: não juntei as mãos, não rezei e nem tinha edredom naquela época! Com status de anjo, toda criança faz pirraça até com Deus!

Aqui estou eu hoje com o coração saudoso. Após certa idade, eu cresci. Mas confesso que crescer talvez tenha sido a maior de todas as minhas infantilidades!

Estamos novamente no Natal. Eu conheço essa maravilhosa data há 53 anos! A luz de Cristo iluminando as estrelas desse maravilhoso céu de dezembro. Seu hálito provocando febre no hospitaleiro vento que sopra nesse mês de verão. Sua presença embriagando a alma de fé. Todos de copo na mão e desejos no coração. Ué?! Qual a melhor hora da noite para comemorar o nascimento de Cristo? É agora?! Que horas Ele chega?  Que horas Ele nasceu? Estou cansado, vou embora, ou espero um pouco mais?! Alguém avisa que Ele chegou! Um tanto ofegante, mas chegou! Atrasou um pouco, parando para observar o egoísmo, a violência, o materialismo, a vaidade, o fanatismo, e a mentira, que grassam sobre a Terra. Mesmo assim, cheio de amor e abraçado com a esperança, mais uma vez Ele chegou! Como a ave migratória que nunca presta atenção quando cruza uma fronteira ele aqui pousou. Peguem suas taças. Se um pouco de sonho ás vezes é perigoso, o que há de curá-lo não será menos sonho e sim mais sonho, muito sonho, todo sonho! Vamos fazer tin-tin. Deixem de sofrimento. Restaurem o equilíbrio emocional! É muito fácil se conseguir: basta distribuir suas neuroses em partes iguais em cada hemisfério cerebral. Pronto! Sua emoção está equilibrada! Como consolo, aí vai também uma pequena trovinha: Crise existencial é uma péssima experiência. Mas enquanto há crise, há existência!

Feliz Natal!

 

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