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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Tristeza não é doença

Deixando de lado os masoquistas, cujo lema é desistir da alegria e investir na tristeza, devemos lembrar que esse incômodo sintoma não deve ser confundido com doença. Como estamos vivendo numa época que abraça o objetivo de obter reconhecimento e gratificação em tudo, de forma imediata e a todo custo, a tristeza, esse nobre sentimento de defesa da mente, é vista como um estorvo que precisa ser debelado. Aquilo que nossos avós viam como reação a esperanças e desejos frustrados, hoje é considerado enfermidade.

Qualquer infortúnio que nos atinge, tais como: perda de emprego, fim de um relacionamento amoroso, descoberta de uma doença grave, morte de algum ente querido, entre outros, naturalmente deve gerar reação de luto, com seu rosário de sintomas: consternação, insônia, reclusão social, anorexia, perda de interesse nas atividades cotidianas, e assim por diante. Não devemos confundi-lo com doença. Todas essas manifestações de pesar são terapêuticas e não devem ser menosprezadas ou ignoradas. Pelo fato do mundo atual ser bastante materialista e egoísta, apresentando laços afetivos frouxos, apego espiritual tênue, somados a mídia que nos engana e tenta provar que, sem sucesso, riqueza ou beleza, nada mais nos resta, surge não mais o véu da tristeza para nos aquecer e amparar, e sim a cruel depressão que nos tira a vontade de entender e lutar. Ao contrário da tristeza, coluna de luz que ilumina e ouvinte silenciosa que consola, a depressão tem egoísta vida própria e pouco a pouco asfixia a vítima por completo. Ela faz germinar no indivíduo um comportamento não mais dele, mas que pertence à depressão. Ela vai se empanturrando dele até haver mais nada para alimentá-la. Ao contrário da tristeza, que nos fortalece e ensina, a depressão cria percepções distorcidas a serviço do fracasso. Enquanto a tristeza tem funções curativas e reparadoras, a depressão nubla nossa compreensão. Na tristeza vemos o mundo errado, logo ainda cabe consertá-lo. Na depressão vemos o mundo destruído, onde nada mais deve valer a pena.

Afinal, por que existe tristeza? Eu arrisco dizer que a pessoa quando está triste é mais humana. Ela atrai apoio social após alguma perda; afinal todos nós já tivemos contato com a tristeza e, através dela, somos irmãos. A tristeza funciona como um pedido de socorro. Por outro lado, a depressão é mórbida. Seu abatimento grave e prolongado tende a irritar outras pessoas, levando ao isolamento e a rejeição, pois se ergue sobre bases sombrias. Na tristeza, somos forçados a reavaliar o passado. Dessa maneira, as reações de tristeza são adaptativas. Na depressão, ao contrário, existe uma falta de motivação tão severa que os esforços não são canalizados para cura.

Interessante notar a relação extraordinária entre a capacidade artística e intelectual, com a tristeza. Pessoas que se destacam em filosofia, música, religião e humor (pasmem), flertam com ela.

A tristeza se manifesta de formas diferentes em cada ser humano. Para uns é algo insignificante, para outros é um tormento insuportável. Enquanto uns superam facilmente seus tentáculos, outros quase não são capazes de agüentar suas tenazes; mas, para todos nós, a tristeza vem e vai; assim como as causas que a motivaram. Enquanto a depressão nos joga na rua, a tristeza serve o jantar em nossa mesa e pede para que a alegria arrume a cama que vamos dormir.

 

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