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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Guruçá doidão

O gordo é um discriminado. Mas têm sua compensação. Aquece a mulher no inverno. E faz sombra no verão!

Mesmo sabendo que a banha lubrifica os sentimentos e amortece as pancadas da vida, quase todo gordo quer emagrecer, inclusive eu!

Não raras vezes, ouvimos: - Ei! Cinturinha de Quibe! Pare de transformar seu traseiro numa poltrona! Levanta de cima desse glúteo e vá correr na praia!

Ontem, ao entardecer, comecei o árduo trabalho de me transformar em alimento da minha vontade, devorando meu excesso.

Iniciei minha corrida quase noturna partindo da Praia da Sereia em direção a Itaparica.

Alguns gordos correm durante a noite com vergonha dos banhistas que, de dia, enxameiam a praia. Eu faço ginástica ao entardecer para evitar ter que ficar observando minha sombra gorda projetada na areia e me seguindo.

Corri aproximadamente duas horas. Poderia ter ido bem longe. Todavia, existem mais mistérios entre Itapoã e Itaparica, ao cair da noite, do que sonha o povo Canela Verde!

Entre o Clube Libanês e o começo da Praia de Itapoã, pousei meus olhos inúmeras vezes em distintas famílias, cuja mãe brincava com os rebentos, enquanto o pai vigiava o molinete, maluco para fisgar um peixe.

Também observei alguns esportistas que emprestavam sua presença, jogando futebol, vôlei ou correndo, como eu.

Contornando Itapoã, comecei admirar o comportamento bizarro dos guruçás. Uns, equipados com talento musical, dançavam o Pocotó melhor que Lacraia! Outros, mais afoitos, corriam em direção aos inúmeros grupos de jovens que, fumando uma “certa erva”, deliberavam sobre o futuro nome de sua banda: Areia “Fumegante” ou “Baseado” na Existência?

Respirando aquele ar de excitação, os guruçás levantavam aqueles olhinhos que parecem dois palitos de fósforos, correndo de um lado para outro, cada qual mais doidão.

Apesar de um tanto cansado, bastou atravessar aquela fumaça para que meu cérebro se ativasse e acelerei em direção a Itaparica. Quando lá cheguei, já era noite feita.

Virgem Maria! Quanta gente! Achei que fosse festa de Yemanjá. Mas não era. Era um Congresso Gay.

Enganei-me de novo! Era uma reunião da “Bolsa de Valores”. Discutia-se ali, o preço do prazer carnal.

Mesmo não nutrindo nenhum preconceito religioso, ideológico, sexual ou coisa que o valha, não pude deixar de achar engraçado o mercado erótico ali existente.

Alguns trocavam seus recipientes, mais conhecidos como “caneco”. Outros negociavam seus ativos e passivos instrumentos sexuais, utilizando dinheiro. Era oferta pra todo lado. Tinha fiofó de até $1,99!

Finalmente, outros praticavam escambo usando, como moeda, a beleza física.

Tudo isso, obviamente, carregado de humor, irreverência e clandestinidade.

Sentindo-me constrangido, resolvi retornar. “Quem tem traseiro, também tem receio! Esqueça o fim, melhor voltar do meio!”

Pois é! Encantadora como sempre, nossa Praia da Costa continua contemplando sonhos.

Contempla a esperança da mãe no futuro do seu rebento, que faz castelos na areia, sonhando aquele momento.

Contempla a ilusão do jovem, que prefere a momentânea felicidade química e ilusória da droga, no lugar da emoção genuína da realidade, deixando a vida escorrer como areia entre os dedos, para depois morrer de saudade!

Contempla, sem preconceito, o dilema de quem não pode ser mulher, por ter nascido com um corpo de homem e nem tampouco ser homem, por possuir um espírito de mulher.

Finalmente, contempla minha vontade de emagrecer, enquanto o vento sussurra nos meus ouvidos, dizendo que emagrecer não rejuvenesce. Pois a melhor ginástica é o sorriso. E quem sorri de amor, nunca envelhece!

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