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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Afrodisíaca Praia da Costa

O que os olhos não vêem, o coração não sente! Puxa vida! Quem nunca esgarçou as fímbrias do músculo cardíaco ao ver sua ex-namorada, linda e toda cheia de si, enroscada nos braços de um novo, desconhecido e, para nós, repelente grande amor?! Essa cena alimenta o ego de desespero.

Deixemos porém o cotovelo dolorido de molho no passado e vamos retornar aos sonhos diários. Que a Praia da Costa é afrodisíaca pela sua própria geografia, todo mundo sabe. Que nela respiramos um ar de romantismo, toda gente percebe. Para abastecer os corações apaixonados, surgiram casas noturnas, barzinhos, restaurantes, boates, etc.

Semana passada, após ter hibernado dois meses, lambendo feridas afetivas, me alistei na Legião dos Notívagos e parti para luta. Convidei uma deslumbrante “gata” para jantar.

Com o intuito de impressionar a “presa”, nos entramos num charmoso e elegante restaurante localizado na orla. Em cada mesa brilhavam velas acesas, envoltas por sensuais rosas vermelhas. Um sensível pianista descascava uma melodia romântica sobre o teclado. Casais trocando segredos, juravam amor eterno.

Inebriado de entusiasmo, envolto naquela aura de emoção, ansioso por demais para sacramentar a conquista da “lebre”, tentava, imerso em meus pensamentos, frear o ímpeto da empreitada, lembrando que a ansiedade é prima da precipitação e a precipitação é irmã do fracasso.

Em dado momento ouvi a princesa falar: Sabe João?! Eu gostaria de te dizer uma coisa!

Exultei! Meu Deus! Será que ela vai confessar que está me achando magnânimo? Atraente? Especial? Por ventura, meus ouvidos vão ouvir a doce vitória da paquera, embutida na frase: Acho você uma pessoa interessante! Estou adorando a noite! Sua presença é maravilhosa! Será?

Retornei rapidamente dos recessos labirínticos da mente, onde tropeçavam meus bêbados pensamentos e indaguei: Vamos, fale!

Ela calmamente verbalizou: Sabe, João! Acho que estou ficando doida!

Jesus do céu! Como é lindo ouvir as trombetas da glória! Ela está apaixonada por mim! Que bom! O amor faz a gente se sentir meio louco, insano! A paixão não bate com a lógica. Eu compreendo, linda princesa, sua preocupação com essa loucura! O sonho trava as diretrizes do real! O torvelinho do sentimento tonteia! (Êta bichinho pra falar bonito!)

Mas conclua, doce menina! Você está ficando louca?

Sim, ela respondeu. Acho que eu enlouqueci ou a alface no seu prato está andando!

Perplexo, olhei para baixo e lá estava uma cabeluda lagarta carregando nas costas o verde objeto do seu desejo.

Passei um bom tempo fitando aquela cena. Enquanto o tal bicho comia minha salada, murchavam minha esperança e meu apetite.

Ao levantar os olhos, notei aquela linda mulher me olhando. Sorrindo, disse: Não fique triste João. Quem não fracassou ainda, foi porque não foi criativo o suficiente nem para fracassar.

Parabéns! Você já fracassou!

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