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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Estacionamento Proibido

São seis horas da tarde. Acabo de enfiar o “focinho” do meu carro na Avenida Hugo Musso, no sentido da Praia da Costa para Itapoã. Estou me sentindo meio constrangido e envergonhado, tanto pelo mico que acabo de passar, quanto por ter irritado o gentil funcionário daquele laboratório de análises.

Eu sofro de prisão de ventre. Ao contrário da Câmara e do Senado Federal, onde muitos deputados e congressistas parecem que vivem tomando laxantes e despejando seus excrementos sobre a nação, eu também faço o tal “esforço concentrado”; não para votar matérias de interesse nacional, mas para exonerar meus escatológicos detritos. Em função disso, passo o dia inteiro tentando conseguir levar o material colhido para análise. Como todos aqueles que se alimentam fora, é mais do que justo, de tempos em tempos, pesquisar vermes intestinais.

Já passam das cinco da tarde quando, finalmente, chego ao laboratório com o pequeno pote nas mãos. De forma diligente, o funcionário cola uma pequena etiqueta no vasilhame e, devolvendo-me, diz: Coloque o nome. Eu, mais que depressa, pego a caneta e escrevo: “Bosta”.

Além desse vexame, eu noto a Torre de Babel instalada na Avenida Hugo Musso; situado ao lado do tal laboratório, verdadeiro gargalo por onde passam, nesse horário, milhares de carros.

Lembro quando a Praia da Costa era bastante calma e tranqüila para se viver. Hoje nós levamos mais tempo trafegando de carro, do que andando a pé. Nesse momento, esses pensamentos saudosistas são quebrados pela presença de uma cabeluda e horripilante aranha, no vidro do meu carro.

Jesus do céu! Esse bicho deve ter embarcado no estacionamento do CREFES, local onde eu trabalho, e que se localiza sob os pés do Morro do Moreno, ninho de verdadeira fauna.

Olho novamente e, lá está aquele ser fantasmagórico no vidro do veículo! Tudo bem! Eu sei que isso pode não ser um drama para você, meu caro leitor, mas eu confesso que não levo jeito para matar insetos, besouros, baratas, aranhas, e afins!

Está bem! Talvez você esteja pensando que todo homem é o matador oficial dos insetos que aparecem no lar? Eu concordo! Depois, é claro, de ter esgotado todos os argumentos com os vizinhos, e tentado a defesa civil junto com as forças armadas.

Lá continua, aquela aranha peluda e repelente, bem no meio do meu vidro, e tudo o que penso é que eu quero aquele monstro fora dali, e pronto. Ràpidamente meu cérebro traça um plano simples: ligar o limpador de pára-brisa e arremessá-lo longe.

Reflito: E se o limpador de pára-brisa arremessá-lo justamente para a minha janela! E aí? Eu fico achando que ele sumiu, saio do carro, e ele pula no meu pescoço! Não ria! Já vi isso num filme! Eu fico sem saber o que fazer. Se pelo menos eu estivesse perto de um “lava-jato”, tudo estaria resolvido, mas estou preso no trânsito infernal da Avenida Hugo Musso! Isso também afasta a possibilidade de eu correr na concessionária e comprar um carro novo!

Eu permaneço com um olho na aranha e outro na avenida. Olho desolado e vejo que não posso parar. Estou cercado por placas de sinalização. Em toda parte leio que é proibido estacionar entre seis e oito horas da noite. Exatamente no horário em que aquele aracnídio resolver infernizar minha vida! Talvez eu não consiga sustentar essa situação muito tempo, sem causar um acidente. Depois de alguns minutos, eu resolvo tentar tirá-la de lá por telepatia. Eu me concentro até espremer o cérebro; e nada!

Arrisco ligar os limpadores. Também nada! Ela nem se coça. Meu limpador, empenado, passa por cima dela, sem que ela se incomode. Ela continua tecendo sua teia.

Desesperado, ligo a água para tentar lavá-la de lá. Nem é com ela!

Começo suar de frio, enquanto meu medo toma dimensões transcendentais, esotéricas, cosmológicas, e telúricas!

Alguém, caminhando pela calçada, ao lado, grita: João! Ela está aí deeeeeeeentro!

Estou com muita vergonha de contar o final da história. Vou dar uma dica: Outro exame de fezes!

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