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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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O ninho de Pedro Palácios

Que coisa bonita é aquela ermida lá no alto da colina! Como enche os nossos olhos! Como se impõe diante de nós! Como guarda nossas lembranças! Como alastra nossas esperanças! Testemunho silencioso dos caprichos do tempo, aquele velho convento segue fitando as existências e as desistências do nosso povo, de nossa gente.  Ele assiste o estorricar das secas, o ribombar das tempestades, a faxina das inundações; enviados pelo Criador para alterar a monotonia do planeta. Ele permanece calado frente às mudanças dogmáticas, sociais e ideológicas albergadas pela mente daqueles que vicejam aos seus pés. Ele acompanha as dúvidas que brotam nos milhares de fiéis, aderindo aos novos modelos sociais que vão surgindo, abandonando milenares costumes. Lá, do alto, sabe por que sentimos medo. O culto, a fé, os dogmas, todos são tentativas para não ter medo. Quando o tempo dissolve alguns valores ou quando esses valores já não cabem mais no pensamento atual, muitos criam coragem para mudá-los. Entretanto, muda-se a roupagem da crença, jamais sua essência.

A profunda fé que atracou por estas plagas, viajando no coração dos portugueses, edificou aquele belo santuário a fim de perpetuar seu testemunho.

O homem que faz um pacto com o Criador deixa de ser homem e transforma-se em altar. Um dia ele morrerá, esperando que Deus continue lá.

Frei Pedro Palácios, um desses homens, talvez tenha dito:

Vede aquela vela, com sua pequenina luz que treme lá no alto, cheia de medo da escuridão?! Olhai-a, com admiração. É vista com certa dificuldade; arde solitariamente. Mandai que milhares de bocas soprem nela ao mesmo tempo e, mesmo assim, não conseguireis apagá-la. Nem sequer fareis a chama bruxulear. Essa chama continuará subindo ao céu, perpendicular e pura. Essa vela é a minha consciência. Sua chama ilumina a minha fé!

Embora meu coração enterneça com a iridescente luz desse servo de Deus, convém lembrar que muito antes dele aqui chegar, aquela colina já era sagrada.

Os nativos do nosso litoral chamavam aquela montanha de IBACAPÉ. IBACA significa céu. PÉ quer dizer caminho. Apressadamente, poderíamos deduzir que, para eles, aquela era a estrada que levaria ao céu.  Puro engano! Céu para o índio não era um lugar, mas um estado de espírito! Ibacapé poderia ser traduzido como: sentir-se no céu!

Igrejas, sinagogas, templos, mesquitas, muitas vezes são construídos como se ergue um castelo no ar. Sem o alicerce da fé, ele jamais conseguirá como fez o convento, se eternizar!

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