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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Os paraísos artificiais das drogas

Durante a vida, nós giramos milhares de vezes ao redor, do desejo, da saciedade, e do tédio. Nem bem alçamos um vôo, e já queremos pousar. Tão logo chegamos ao solo, e já nos entediamos.

Talvez seja essa a razão que motiva algumas pessoas em buscar os chamados paraísos artificiais.

Seria ingênuo negar o fato de que ninguém vive sem seus pequenos vícios. Alguns deles, no sentido de parecerem inofensivos, são até chamados de hábitos. Podemos citar, por exemplo, o uso do café, cuja cafeína, um poderoso estimulante, além de bloquear a ação da adenosina, substância calmante produzida pelo cérebro,  também aumenta os níveis de dopamina e noradrenalina, compostos associados a sensação de bem estar, euforia, e estado de alerta.

Um outro tipo de vício é a paixão. Quando estamos apaixonados, os níveis cerebrais de serotonina e noradrenalina estão deliciosamente aumentados. Essas substâncias são responsáveis pelas sensações de prazer, elevando a vigília, iniciativa, e libido.

Fisiologicamente a natureza coloca a paixão a serviço da conquista, do amor, e da preservação da espécie, através da procriação. Existem indivíduos viciados pelas sensações produzidas por esse estado de êxtase, ignorando o objetivo desse maravilhoso sentimento. São os chamados Don Juans. Atravessam a vida trocando repetidamente de paqueras, sempre atrás de novas paixões, tão logo o prazo de validade da anterior termina. A paz oferecida pelo amor não os encanta. Somente se embriagam das voluptuosas sensações da paixão.

Também, os vícios de beber, fumar, fanatismo religioso, status, poder, sexo, embora cobrem um preço, são considerados menores, frente aqueles produzidos pelas chamadas drogas psicoativas.

Alguns indivíduos covardes, fugindo das agruras que a vida oferece, saem em busca da auto-transcendência por meios de entorpecentes, clamando umas férias químicas de si mesmos. São pessoas que levam a vida de maneira tão dolorosa, monótona, limitada, que a tentação de transcender a si próprios, ainda que por alguns momentos, torna-se um dos principais apetites da alma. São eles seres, cujo ideal e religião, é viver de ilusão. Acendem velas em pleno meio-dia para se livrarem da escuridão. Já não mais conseguem enxergar a luz do sol.

Essa chamada ideologia lisérgica é dramática e perigosa. A felicidade que não se modera, destrói-se por si mesma. A ilusão cria dificuldades para a razão, a qual nenhuma ajuda pode dela esperar. Sozinha, acaba se turvando.

O viciado não percebe que criar o paraíso pelas drogas é como trocar um belo jardim por uma pintura desse jardim. Um amanhecer fotografado é igual todas as manhãs. O cérebro, estimulado pelo uso das drogas, engana a si, e ao restante do corpo. Começa cedendo um fio de cabelo, mas não demora em perder a cabeça inteira.

A relação entre o corpo e a mente necessita de constantes mudanças e adaptações. Estímulos dolorosos, percepções de sofrimentos, e sensações de medo, são armas lançadas ao corpo para sua preservação e necessárias modificações. As drogas projetam um mundo perfeito. Criando prazeres mórbidos, alegrias imoderadas e irresistíveis, onde tudo é milagroso e imprevisto, levam a danação de ignorar onde tudo vai acabar. Doente de alegria, o drogado não pode mais suportar os desejos de trocar seu velho corpo por uma alma nova. Nessa efervescência da imaginação, o organismo perde seu instinto de sobrevivência e se entrega ao turbilhão de sensações e idéias.

Os maravilhosos neurotransmissores cerebrais, secretados de forma fisiológica, alimentam a esperança, embriagam a paixão, enaltecem o amor, preservam a motivação, valorizam o sofrimento, respeitam a dor. Mas, quando estimulados de maneira química, eles se tornam suicidas e homicidas, transformando anjos em bestas, apagando as estrelas e desmontando o sol.

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