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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Solteiro também é gente

Comprar uma casa de praia foi um dos maravilhosos sonhos realizados durante meu último romance. Essa época me favoreceu o plantio de lavouras de esperanças e uma farta colheita de gratificações. Mas, como tudo na vida acaba; inclusive a própria vida; aqui estou eu, novamente, labutando nessa vida de solteiro.
Ir ao cinema com uma nova paquera é tão previsível quanto ela dizer que quer conhecer seu apartamento. A princípio você exulta, até lembrar a desarrumação e o lixo em que se encontram seu aconchegante e prosaico lar.
Será que ela gosta de poeira? Será que depois eu não terei que levá-la ao hospital com uma crise de rinite alérgica?
Eu passo a manhã inteira limpando a velha pocilga para alcançar a categoria de bagunça!
Situações como essas costumam fazer parte do cotidiano dos solteiros. A solidão administrada é até salutar para quem necessita reorganizar seus arquivos mentais; mas cuidado com os vícios adquirido ao viver sozinho.
Um dos problemas mais enfrentados pelo solteiro é ter sua masculinidade posta à prova diàriamente.
Se o indivíduo é recém solteiro a cobrança até que é suave, mas caso tenha sido sempre solteiro, a plebe ignara cai de pau em cima. São nesses momentos que muitos solteiros se juntam para reforçar suas performances sexuais, gerando aquelas tradicionais perguntas: “Quantas gatas você faturou esta semana?
O que me enlouquece é que aparece sempre alguém pra dizer: “Deixa eu ver”...
“Deixa eu ver!” Que droga é essa de “deixa eu ver?” Eu sempre achei que “deixa eu” ver é uma frase que se diz para quando alguém lhe pede pra tentar lembrar os nomes de todos os políticos que roubam! Esses eternos lugares comuns de machismo grassam entre nós, homens.
A gente adora contar vantagem. E tudo vem do mesmo lugar: insegurança! Temos necessidade de proteger constantemente nossa imagem de macho.
Experimente você, meu amigo, dar um abraço no cara que acaba de te contar que saiu com aquela fulaninha! Você vai tirar todo o seu equilíbrio de macho dos eixos. Ele vai reforçar a virilidade dele dizendo que depois do ato correu lá pra fora e fez quinhentas flexões.
Todos os homens possuem aquela mentalidade de “não fique muito perto de outro homem”. Experimente abrir a porta de uma loja para alguma mulher e perceber que um homem está pegando carona e passando! Ah, não! Na-na-ni-na-não! Ele larga a porta na cara do outro. Escuta aqui, mermão! Eu estou abrindo a porta pra ela. Não pensa que estou abrindo pra marmanjo, não! Segura o resto com o pé, “brother”.
Muito curioso também é um cidadão ao lado do outro, perfilado num mictório público.
Ele olha desconfiado para os lados e para trás e pensa: E se eu ficar nervoso e não conseguir fazer xixi? E se eu parar na metade do xixi? E se eu fizer um xixi demorado demais? E se no meio do xixi eu emitir algum som? E que Deus não permita, mas se por acaso eu, sem querer, der uma olhadinha para os genitais do cara ao lado? E que Deus também não permita que ele me pegue olhando! E que pelo amor de Deus, ele não permita, mais uma vez, se ele me pegar olhando porque ele também estava me olhando!
Semana passada, depois do habitual passeio com minha nova gata pelos corredores do Shopping Praia da Costa, solicitei que ela esperasse, enquanto eu iria ao WC. Lá estava eu, em pé, fazendo meu xixi amigo, quando ao meu lado um indivíduo perguntou: O senhor é Canela Verde. O senhor é Canela Verde e nasceu na Travessia Pedro Palácios. O senhor é Canela Verde, nasceu na Travessia Pedro Palácios e fez operação de fimose, em 1968, com o médico Dr. Amado Pinto.
Como é que você sabe?!
Eu sei, por que ele era canhoto e o senhor está mijando no meu pé esquerdo!

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