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Os políticos sucupiranos

Os políticos sucupiranos, esses exóticos dirigentes da curiosa cidade, usam linguagem empolada, fazem o discurso da lei, da ordem, da honestidade e dos princípios, prometem realizações progressistas e melhoria contínua da qualidade de vida.

Os políticos sucupiranos dizem loas à democracia e à imprensa livre, além de prestar relevantes honrarias à sociedade civil, muitas vezes convidando seus líderes para cerimônias oficiais.

Os políticos sucupiranos defendem com unhas e dentes a transparência e o controle social nos assuntos públicos, sendo essas, dizem eles, ferramentas fundamentais da cidadania e do bom uso do erário.

Os sucupiranos, cristãos que são se preocupam, nos discursos, com a qualidade de vida dos mais pobres, prometendo, sempre, medidas para lhes aliviar a miserável condição.

Os políticos sucupiranos defendem com toda a garra a justiça para todos e um julgamento imparcial com amplo direito de defesa para todos.

Os políticos sucupiranos abominam a corrupção, afirmando, dia após dia, que ela não tem lugar em sua sociedade e que todos os casos descobertos devem ser exemplarmente punidos com todos os rigores da lei.

Os políticos sucupiranos, como liberais admiradores da livre empresa, buscam construir um Estado – que não seja nem máximo nem mínimo – e, sim, regulador, sempre em benefício da sociedade.

Os políticos sucupiranos, preocupados com a vida em todo o planeta, garantem que sua contribuição à sustentabilidade é diuturna, seja por meio da preservação, seja por meio da reciclagem.

Os políticos sucupiranos reconhecem o papel da educação na melhora de, praticamente, todos os aspectos da vida humana, e, por isso, sempre, se apresentam preocupados com o tema.

Os políticos sucupiranos percebem que um item imprescindível para uma qualidade de vida decente é a saúde. Para isso, se prontificam a promover campanhas preventivas e estruturar um sistema de saúde que a todos atenda.

Os políticos sucupiranos, por se sentirem modernos e politicamente corretos, usam mesmo a expressão up to date, revelam interesses em temas como prostituição infantil, pedofilia, uso de álcool e direção, uso de drogas e outros temas do século XXI.

O único problema dos políticos sucupiranos é que tudo isso não passa de discurso.

Usam e abusam do poder, desdenham da sociedade e da política, empregam parentes e apaniguados aos borbotões, reclamam da imprensa e dos órgãos de controle, tentam – às vezes conseguindo – controlar a imprensa, não trabalham com planejamento e prevenção e, sim, aos tropeções, utilizam-se do Estado para intervir em negócios privados ou para deles fazerem uso, odeiam a transparência pública, criando portais de transparência ao estilo “me engana que eu gosto”, e tantas coisas mais que seria cansativo descrever.

Os políticos sucupiranos – como seus contraparentes da República de Bruzundanga* ou da Oceânia** falam uma linguagem hermética com muitas vírgulas e cheias de significado invertido. Alguém já a denominou de Novilíngua.

A sorte dos políticos sucupiranos é a apatia e o desinteresse dos cidadãos, a falta de uma justiça livre, efetiva e independente, a torrente de descontinuadas informações que abarrotam os cidadãos, a capacidade – mesmo em condições adversas – de se construir a vida no cotidiano, a propagação do jeitinho como um típico valor sucupirano.

O típico político sucupirano é Odorico Paraguaçu***, mas eles podem, também, ser encontrados em Bruzundanga, na Oceânia e até mesmo, surpreendam-se, no Brasil. Ocupam posições importantes e continuam, modernos que são, in business as usual, enquanto os cidadãos sucupiranos não os varrerem do poder.

 

* - Bruzundaga é um país imaginário criado por Lima Barreto no seu clássico, de 1918, “Os bruzundangas”.

** - Oceânia (assim mesmo com acento) é um dos imaginários países do clássico de George Orwell, publicado em 1948, intitulado 1984, onde se fala a Novilíngua.

*** - Odorico Paraguaçu é o prefeito da ficcional Sucupira, cidade criada pelo dramaturgo brasileiro Dias Gomes na sua peça de teatro Odorico, o Bem Amado ou Os Mistérios do Amor e da Morte, pela primeira vez encenada em 1969 e depois transformando-se no clássico da TV brasileiro sendo interpretado por Paulo Gracindo.

 

 

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