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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Sonhos desfeitos

Santa Maria, Rio Grande do Sul, Boate Kiss, madrugada de domingo...

Camilas, Brunas, Letícias, Bárbaras, Marianas, Lívias, Micheles, Felipes, Vinícius, Marcelos, Renatos, Fernandos, Thiagos, Fábios, se acotovelam nos corredores, ao redor das mesas e na pista da casa noturna, em busca de alegria, produto accessível e sempre disponível para a juventude...

Sorrisos, beijos, apertos de mãos, abraços, cochichos, gritinhos, tapas nas costas, todos eles se mesclam com o som e seu ritmo frenético, embalados pela banda...

A noite promete êxtase, os hormônios inundam o cérebro, a excitação alcança o restante do corpo, os feromônios atraem, o amor e a sexualidade louvam da vida, o esplendor...

Olhares, pensamentos, silêncios, reflexões, monólogos, diálogos, lançam uma rede de comunicação entre os corações...

Ouçamos alguns deles: Galera, vejam que gata linda! Será que eu consigo impressioná-la...

Puxa, que calor, vou ao bar pedir uma cerveja... Acabo de entrar na universidade; logo vocês me respeitarão, seus manés...

Eu te amo Mariana, volta pra mim... Eu te amo Beto, fica comigo...

Eu não te amo Cara, suma... Estou com saudade dela. Acho que vou pra casa...

E aí, mermão! Tudo bom! Chega mais...

Qual é, brother, você vai conseguir alguém hoje...

Detesto ver minha irmã dançando com aquele Mané...

Olha aí, galera! Rs. rs. rs. Estou trabalhando... Chora não, meu amigo, ela não te merece...

Paga aí, depois te dou a grana... Tua irmã é uma gata, véio...

Comprei um carro novo...

Ganhei um carro do meu velho...

Se meu pai me pega aqui, estou frita...

Eu amo minha mãe, mas não gosto daquele namorado dela...

Amiga, nós te amamos...

Amiga, você está linda...

Vamos viajar semana que vem...

Tenho pena dele, mas amo outra pessoa...

Tenho pena de mim, mas não consigo dizer pra ele ir embora...

Nasceu um irmãozinho lá em casa, agora acabou minha mesada...

O show está bombando, nunca vi uma banda tão irada...

Tocam bem, dançam bem; enfim, eles são demais... Olhe, aquele sinalizador, bateu no teto...

Aquela fumaça saindo, será que não tem perigo... Pegou fogo na espuma... Estou preocupado...

Pelo amor de Deus, vamos embora... Meu Pai... Minha mãe do céu... Socorro... Acudam... Empurrões... Incerteza... Desespero... Pânico...

A tragédia chama o pesadelo pra bailar, enquanto os sonhos desfeitos, lambidos pelo fogo, virando fumaça, irá nos fazer chorar... Silêncio... Perplexidade... Luto... Adeus galera... Perdeu a graça... Apagou a luz...

O show terminou... A esperança se foi... O vazio chegou...

Que pena o destino ter trocado de par, abandonando a vida, chamando a morte pra dançar...

Que pena observar a alegria abandonar o salão, deixando a dor no seu lugar... Adeus, meninos...

Seja esse sono eterno repleto de sonhos infinitos...

Fica a saudade, essa perpétua presença da ausência...

Além de vocês, perdemos também os paraísos que moravam dentro de vocês...

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Sois rei?

Estamos pertinho das eleições. Candidatos alvoroçados vociferam que darão tudo pela nação, quando na verdade o que muitos deles desejam mesmo é viver à custa dela. Recentemente saiu uma pesquisa informando que os políticos estão em primeiríssimo lugar no quesito falta de credibilidade. Noventa e quatro por cento dos brasileiros não acreditam nessa turma. Eu também penso que as boas ideias dos poucos políticos eficientes, timidamente triunfam. A maioria apenas cumpre seus compromissos com pessoas e facções. Política é a arte de se servir das pessoas, dandolhes a impressão de estarem sendo servidas.

É lugar comum à política ser usada para obter votos dos pobres e doações dos ricos, prometendo a cada um que o defenderá do outro. Alguns políticos acabam fazendo com seu país aquilo que há muito tempo não fazem com suas esposas. E como nós, eleitores, somos tolos! Jamais paramos para pensar que nenhum governo tem para dar um só centavo que não seja tirado de nossos impostos. Toda vez que um político é pego afanando dinheiro do contribuinte, erradamente o cidadão se preocupa mais com o ladrão solto do que com o dinheiro roubado. Esse, nunca aparece, enquanto aquele, nunca desaparece. Infelizmente, a revolta dos eleitores pouco ajuda eleger bons políticos.

Depois das eleições há sempre uma curta lua de mel, mas logo surge nova decepção. Isso acontece porque existem três tipos de eleitores: o que faz acontecer (esses são poucos); o que assiste acontecer (esses são muitos); e o que nem sabe o que acontece (esses são abundantes). Após o pleito, quando o eleitor chora vendo os pactos se esboroarem, os eleitos vendem lenços para eles enxugarem suas lágrimas. Alguns candidatos falam muito e fazem quase nada. Outros se gabam tanto e sabem tão pouco.

Quanto ao eleitor, muitas vezes ele também é culpado quando se deixa influenciar pelo carisma, retórica, status e promessas dos candidatos, olvidando que aquele que vende seu voto recebe de volta até mais do que custa seu caráter. Esquecemos que aquelas coisas terríveis que são praticadas em nome do progresso, não são realmente progresso, mas apenas coisas terríveis. Nascem ideias, morrem ideais! Comenta o cidadão, armado de salamaleques: - Oi, deputado, que prazer conhecê-lo! Eu já ouvi falar muito do senhor! Responde, cheio de afetação, o representante do povo: É, mas ninguém prova nada, ninguém prova nada. Orienta o secretário de obras, solícito: - Prefeito, precisamos construir uma quadra de esportes, para lutas marciais, tipo judô e caratê. -O que o senhor acha do “caratê”? Devolve o prefeito: - Bom! Muito bom!

Deve ser ruim o “cara não ter”, não né?! Durante uma apresentação musical que acontecia na câmara municipal, ouvindo o concertista executar a quinta sinfonia de Beethoven, um vereador pergunta para o outro: -Você sabe o que ele está tocando? -Sei sim. -E o que é? -Piano! Entretanto, a mais perigosa e nociva arma, da qual se vale o mau político nem sempre é a incompetência, mas o eleitor puxa-saco.

Toda vez que um candidato enjoa de ovos, sempre aparece um bajulador correndo para costurar as bundinhas das galinhas. Eu aprecio ver o cidadão se orgulhar de seu candidato, mas gosto mesmo é vê-lo viver de tal maneira que o seu candidato se orgulhe igualmente dele, para poder respeitá-lo.