É possível comer com segurança nas “feirinhas” de Vila Velha?
Núbia C. T. Salles Marques
Esse texto é um trecho editado de um trabalho de pesquisa referente ao ano de 2007. Para a realização deste estudo, foram selecionadas as feiras que funcionam no bairro Coqueiral de Itaparica (Pracinha de Coqueiral) e a da Praia da Costa (Curva da Sereia), sendo 15 barracas em cada feira, totalizando 30 barracas observadas. A escolha das duas feiras foi devido ao fato de se verificar nelas maior densidade e diversidade socioeconômica de seus freqüentadores.
Feira da Praia da Costa
A feira do calçadão da Praia da Costa localiza-se no trecho da Avenida Gil Veloso, popularmente conhecido como Curva da Sereia. As observações nessa feira ocorreram quase sempre nos finais de semana, entre 17 e 19 horas.
Higiene dos manipuladores
Foram observados manipuladores despreparados, aparentando total desconhecimento de suas responsabilidades com a saúde pública. Como exemplo: uma única pessoa manipula alimento e dinheiro no momento de atender o consumidor; mulheres usam esmalte, anéis, pulseiras, colares, brincos e outros adornos na cabeça ou na própria roupa; homens de relógio, camisas abertas ou mesmo trajando regatas; homens e mulheres sem proteção na cabeça; manipuladores que arrumam cadeiras, varrem, limpam a superfície dos carrinhos de lanche ou banquetas antes de tocar nos alimentos e 100% dos feirantes não receberam nenhum tipo de treinamento que pudesse garantir a eles o mínimo de qualificação para manipular alimentos prontos.
Dessa forma, assim como em outros itens relativos à higienização e anti-sepsia, verificou-se uma grande lacuna entre aquilo que estabelece a RDC 216/04 (dispõe sobre regulamento técnico de boas práticas para serviços de alimentação). e aquilo que se pratica no dia-a-dia dos manipuladores de alimentos nas “feirinhas” de Vila Velha.
Armazenamento de alimentos prontos
A etapa mais crítica da venda/consumo de alimentos prontos nas “feirinhas” encontra-se nas condições de armazenamento, desde a produção, transporte e exposição à venda. Nessa etapa observa-se maior nível de perigo e risco à saúde pública. A maioria dos alimentos não é armazenada adequadamente e ficam expostos à venda, sobre balcões e cobertos com filme plástico. O percentual de não-conformidade chegou a 90% das barracas observadas.
Preparo de alimentos
A maioria dos alimentos comercializados nas feiras pesquisadas é preparada ou pré-preparada nas residências dos feirantes e algumas variedades são preparadas no local. O percentual de inconformidade atingiu 96,6%.
Assim, foi observado nas feirinhas várias não conformidades, que por si só constituem grave problema de saúde pública. E como agravante, não se testemunhou nenhuma ação ou atitude transformadora – seja ela da parte dos poderes públicos ou da parte dos feirantes – no sentido de amenizar os perigos e os riscos aos quais é submetido o consumidor de alimentos prontos nas “feirinhas” de Vila Velha.
Embora o que aconteça nas “feirinhas” de Vila Velha seja comum nos grandes centros urbanos do Brasil, é possível planejar estratégias que garantam a segurança e a qualidade dos alimentos prontos servidos em espaços abertos e públicos. Grande parte das contaminações ou riscos iminentes de contaminações pode ser minimizada a partir da aplicação correta das BP. A capacitação dos envolvidos no processo de produção de alimentos é condição vital para minimizar os riscos de contaminação.
É de suma importância reflexões sobre o assunto, e que todos aqueles que participam da cadeia alimentar – desde o produtor rural que manipula o alimento em sua base (matéria-prima) até o manipulador final e o próprio consumidor, passando pelos organismos públicos – sintam-se de fato responsáveis e comprometidos pela segurança alimentar e promovam, através de atitudes convincentes, o bem-estar do consumidor e de toda a sociedade.