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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Sua majestade o riso

Acompanhando o menestrel Juca Chaves durante sua última turnê pelo Espírito Santo, tive a oportunidade de perguntar para ele o porquê de algumas pessoas jamais rirem. Sem muitas delongas, ele respondeu que esses indivíduos não têm imaginação. Qualquer forma de arte requer imaginação. Alguns escritores exercitaram sua imaginação durante aquele período ardente da adolescência, época em que a mente aceita o prazer virtual da masturbação. A pessoa mal humorada jamais pegará o arco íris em flagrante. Beethoven sublimou sua tristeza na famosa Nona Sinfonia, conhecida como Sinfonia da Alegria. Mozart era piadista e brincalhão. Freud, judeu, vítima do regime nazista, expulso de Viena, escreveu: “recomendo a Gestapo a todos.” Ele mesmo afirmava que todos os grandes homens conservam algo de infantil. Brincar é reajustar os elementos do mundo de uma nova forma que agrade a criança.

Mesmo quando crescemos não renunciamos nada na vida, apenas trocamos. A criança brinca; o adulto, fantasia. O humor é uma forma de brincar. Ninguém consegue ser criativo se não brinca com seus sonhos. Brincar é criar uma realidade própria. Talvez seja por isso que o humorista dispõe de asas. Quando vemos uma criança sorrir, também a testemunhamos flutuar, carregada em devaneio pelos anjos. Seres apaixonados viram crianças, rindo à toa enquanto procuram um no outro, os discos voadores que irão abduzi-los.

Muitas vezes o acaso planeja nossa alegria melhor que a labuta solene do compromisso de encontrá-la.

O que dizer daquele sujeito que estacionou seu carro em local proibido para um caso de emergência e foi multado, não conseguindo convencer o guarda da sua necessidade e, então, irritado com o problema e a multa, examinou bem o recibo da infração e verificou que o número anotado pouco tinha a ver com a placa do seu carro?!

O que dizer daquele cidadão que faltou a um encontro com uma bela gata e aí, arrependido, antes de pedir desculpas pela ausência, ouviu dela um pedido semelhante e a promessa de muito carinho para compensar sua falha?!
Rir é encontrar um oásis na miragem de uma felicidade adiada!

Oh! (palmas para o velho oh!). Como diz um amigo meu: Os problemas e as tristezas da vida são como um tarado bem dotado: devem ser encarados de frente; senão...

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Aporrinhando o guarda de trânsito

Numa daquelas mesas colocadas ao longo da calçada em frente aos barzinhos, eu e um amigo bebericávamos um delicioso expresso. Na verdade, apenas eu tomava café, pois ele me provocava engulhos ao se deleitar com uma mistura bizarra de cerveja com leite. Entre um gole e outro, passando os olhos no jornal, uma notícia me chamou atenção: “Soprador de bafômetro preso por furto”. Virando o jornal em direção ao amigo, eu mostro o texto onde estava escrito: “Descendo a serra, rumo à capital, um veículo é interceptado pelo carro da Polícia Rodoviária Federal. Desconfiado pela maneira como o motorista vinha dirigindo, uma vez que estava fazendo ziguezague na pista, o policial solicita que ele sopre o bafômetro. Naquele exato momento acontece um acidente a poucos metros dali e o guarda, abandonando o indivíduo, corre para lá, visando prestar socorro. Percebendo que havia ficado só, o embriagado cidadão disfarça, entra no carro, liga a ignição e desaparece rodovia afora. No outro dia, logo pela manhã, sua esposa o acorda, perguntando: O que aquele carro da Polícia Rodoviária está fazendo na nossa garagem?!”

Mal eu havia terminado de ler a inusitada reportagem, um agente de trânsito se aproxima de um automóvel parado entre duas placas de “Estacionamento proibido.” Com intensidade febril, observamos quando ele saca do bolso da jaqueta um talonário de multas e antes que começasse rabiscar, meu amigo levanta-se da cadeira e corre em sua direção.

-Pare! Pare! Começa gritar para o guarda. Eu só entrei um minuto, para tomar um cafezinho!

-Senhor, responde o representante da Lei: Explique isso ao DETRAN.

-Mas, eu só entrei um minuto!

-O senhor está perturbando um procedimento legal!

-Verdade! Só para um cafezinho rapidinho! Que tal se o senhor deixasse para lá, seu guarda?

-O policial vai preenchendo o talão de multas e com um semblante fleumático o destaca e prende no pára-brisa do veículo, dizendo: O senhor sabe ler?

-Certamente.

-Então leia o que está escrito nesta placa.

-Mas por causa de um minutinho! Uma coisinha à toa!

-Além do mais, disse o guarda, também aplicarei uma multa por ter estacionado longe da calçada!

-Está vendo? É por isso que as pessoas odeiam vocês!

-Se o senhor continuar a me provocar, responde o fiscal da ordem, terei que prendê-lo!

-Por quê?

-Eu não lhe devo nenhuma explicação, senhor. Deixe-me examinar seus documentos!

Meu amigo enfia a mão no bolso e entrega um papel para ele.

-Senhor! Seu talão de água e luz não me interessa. Onde está sua carteira de motorista?

-Não tenho!

-O senhor não tem carteira de motorista?!

-Não!

-Tem certificado de registro?

-Também não!

-Recibo do seguro obrigatório?

-Muito menos!

-Não?!

-Não! Mas eu também não tenho carro!

Faz-se um silêncio pesado, opressivo, desconcertante.

-O senhor não tem carro?!

- Nunca tive!

-De quem é então este carro vermelho?

-Como é que eu vou saber? Eu só parei aqui para tomar um cafezinho. É isso o que eu estava tentando explicar ao senhor o tempo todo!

Após rasgar a multa, o atônito guarda se esvai, tropeçando no seu embaraço.