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Dr. João Evangelista
Gastro-enterologista

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Em nome de Deus

Estamos assistindo a proliferação do joio nos trigais da religião. Semana passada eu fui assaltado por um indivíduo que, além de levar meus pertences, me retirou a esperança de achar que a religião representa um importante freio moral e ético, além da inquestionável função de louvar nosso Deus. Durante aqueles torturantes minutos, meus olhos pousavam aflitos, ora no brilho do cano da arma, ora no reflexo da luz que irradiava da cruz pendurada no peito do meliante.

Algumas semanas atrás, boquiabertos, testemunhamos um respeitado membro de uma seita evangélica assaltar e matar um estudante, filmando seu macabro ofício.

Recentemente um juiz foi acusado de encomendar a morte de seu colega, também juiz, apesar de gozar um profundo respeito frente sua comunidade religiosa.

Ainda consternados pela morte do Papa João Paulo II, recebemos, através da imprensa, indícios de que aquele atentado que sofreu foi encomendado por membros da própria igreja. Durante a Segunda Guerra Mundial, a igreja virou de costas à Alemanha nazista, deixando seis milhões de judeus morrerem nas mãos de Adolf Hitler.

Pipocam decisões escabrosas nos quatro cantos da Terra; sempre em nome de Deus! George Bush invade o Iraque, assassinando crianças. Terroristas explodem as Torres Gêmeas, matando inocentes. Políticos desonestos e inescrupulosos invadem igrejas em busca de votos. Seitas duvidosas capitalizam a fé dos humildes, enquanto contam montanhas de dinheiro! Tudo em nome de Deus!

Quando Nosso Senhor Jesus Cristo veio a esse mundo, carregado de amor e humildade, pregou uma idéia. Passado algum tempo, o ser humano transformou essa idéia em ideologia. Ao estudar os ensinamentos de Cristo, algumas pessoas trataram de distorcê-los de acordo com suas conveniências e propósitos, usando até mesmo o nome de Deus para o mal.

Voltemos no tempo: Era quarta feira, daquele longínquo ano de 1500. Corria o mês de abril. A páscoa tinha acontecido três dias antes. O entardecer daquele dia 22 de abril prometia trazer uma bela e calma noite. Os efeitos argênteos e leitosos da lua transformavam as ondas do mar em pedestal para o silêncio. Uma réstia de sol iluminava a silhueta de um monte que se recortava no horizonte. Este monte viria a ser chamado Monte Pascoal.

Na Nau Capitânia se decide explorar aquele lugar somente ao amanhecer. Talvez naquele momento alguns nativos tenham visto, pintada sobre as velas, a Cruz da Ordem de Cristo; estandarte da fé portuguesa. Mestre João, astrônomo da Caravela, mesmo não concordando com Frei Henrique Coimbra, que tudo queria transformar em milagre ou castigo, marejou seus olhos ao observar o maravilhoso Cruzeiro do Sul, brilhando no céu brasileiro. Talvez os portugueses não soubessem que antes mesmo deles pintarem a cruz nas velas de suas embarcações, Deus já tinha usado o firmamento como moldura para desenhar seu poder e glória!

Teria dito Mestre João, lá com seus instrumentos de navegação nas mãos: Bem, se existe mesmo um Deus, Ele tocou com a sua mão em meu ombro. Se não sou cego, estou vendo uma das suas mais belas obras.

Na sexta feira, 24 de abril, rumaram para Porto Seguro. Afonso Lopes foi o escolhido para inspecionar o local. Conseguiu levar dois índios para bordo. Mostraram-lhes uma galinha. Eles se assustaram. Cuspiram o vinho oferecido, recusaram pão, mel e figos. Ao entardecer, para espanto de todos, cansados, eles se deitaram na alcatifa, nus, a dormir sem nenhuma preocupação ou pudor.

Tivessem usado os portugueses mais amor e menos doutrina, aqueles chamados “gentios” poderiam testemunhar para eles suas experiências com Deus. Mas, com um bacamarte numa das mãos, uma garrafa de vinho na outra, o fanatismo engatilhado na mente, e o corpo infectado pela sífilis, perderam a oportunidade de enxergar Deus dentro daquelas almas!