As verdades do Osmário
Sempre morei aqui na Praia da Costa, menos durante os quatro anos em que fui Secretário do Conselho Estadual de Cultura e me mudei pra Vitória. A empregada que arranjei por lá, a Martelena, veio outro dia me visitar e trouxe junto o marido Osmário, que, além de saber consertar tudo numa casa, também é um emérito contador de causos. São dele as historinhas de hoje. Não respondo pela veracidade de nenhuma, mas garanto que todas se enquadram naquele velho ditado italiano “se non é vero, é bene trovato” (se não é verdade, é bem achado).
Diz Osmário que num sobrado da Cidade Alta moravam três irmãs velhinhas, uma com 90 anos, outra com 88 e a terceira com 85. Uma vez, elas o chamaram para desentupir o ralo da cozinha e ele estava lá desentupindo quando a irmã de 90 anos foi encher a banheira pra tomar banho e dali a pouco gritou aflita: “Alguém sabe se eu estava entrando ou saindo da banheira?” A irmã de 88 respondeu: “Espera que vou subir aí pra ver!”. E começou a subir as escadas, só que ao parar pra recuperar o fôlego, desatou a berrar: “Me acudam! Não sei se tô subindo ou descendo!” A caçula de 85 balançou a cabeça pro Osmário, “Deus me livre de ficar lelé como essas duas!”, bateu três vezes na mesa pra esconjurar a caduquice e tranquilizou as irmãs: “Calma meninas, já vou ajudar vocês! Primeiro deixa ver quem tá batendo na porta!”
Osmário nasceu e cresceu em Itarana. Segundo ele, os frequentadores do principal bar da cidade tinham o costume de se divertir à custa do Coquinho, o maluco do lugar. Todo santo dia ofereciam a Coquinho a escolha entre duas moedas, uma de 25 centavos e outra de cinquenta. Invariavelmente, ele arregalava os olhos de cobiça e escolhia a moeda maior, de 25 centavos, provocando risadas gerais. Certo dia, um forasteiro de bom coração viu a cena, chamou Coquinho de lado e o alertou que a moeda maior valia menos que a moeda menor. “Brigado, moço”, agradeceu Coquinho, “mas sempre sube disso. Dá lucro bancá de burro na frente dos burro que banca de sabido. O dia que eu escolher a moeda de cinquenta centavos, a brincadeira deles perde a graça, acaba e eu não ganho mais moeda nenhuma”.
Uma loirinha pedia carona na estrada de Santa Teresa para Itarana. Já havia escurecido, ameaçava cair um temporal e nenhum carro passava. Foi quando um fusca salvador se aproximou devagarinho e parou perto dela. Aliviada, a loirinha abriu a porta e praticamente pulou dentro do fusca, levando um tremendo susto ao perceber que não havia ninguém ao volante! Para piorar, o fusca fantasma recomeçou a andar, bem lentamente e rumando direto para uma curva perigosa, ladeada por uma pirambeira. A poucos metros da curva, uma misteriosa mão negra surgiu pela janela do carro e moveu o volante. Em pânico total, a loirinha abriu a porta, saltou fora, se ralou toda no asfalto, levantou e saiu em disparada. Meia hora depois, exausta, encharcada de chuva e ainda em estado de choque, ela chegou a um posto de gasolina. Dois negões mexiam no motor de um fusca. Um deles a viu chegando, sorriu e cutucou o outro: “Aí a branquela retardada que entrou no carro quando a gente tava empurrando!”
Ano passado, Osmário ganhou um dinheirinho extra como motorista na campanha de um deputado estadual atrás da reeleição. Despachado, logo ganhou a confiança do homem, que telefonou pra ele de um motel, durante aquela célebre noite do apagão: “Fiquei a pé, rapaz, vem cá me buscar!” Sem eletricidade, a porta da garagem do motel não funcionava, prendendo o carro do deputado, que, aliás, nem era dele, mas da esposa. Osmário foi apanhar o patrão e a amante. “Já liguei pra Dona Encrenca dando uma desculpa, falei que fui assaltado. Amanhã você volta no motel, pega o carro e eu digo que a polícia encontrou.” Os dois deixaram a amante em casa e foram pro apartamento do deputado, um duplex na Mata da Praia. Nem precisaram subir. A esposa aguardava na portaria, cheia de carinhos: “Ainda bem que os ladrões não te machucaram, fofucho!” “É, ainda bem, fofucha, mas levaram seu carro...” “Ah, não se preocupe. Já me avisaram que ele foi localizado. Estava esperando você chegar pra ir lá comigo buscar. Acredita que semana passada mandei instalar um rastreador via satélite? Que sorte, né?”
É, a sorte é como um raio, nunca se sabe onde vai cair... Mas agora, pra passar a régua e fechar a conta, uma que não tem nada a ver com o Osmário.
Dizem que a ONU decidiu fazer uma pesquisa e enviou aos políticos de vários países a seguinte pergunta: “Por favor, diga honestamente qual sua opinião sobre a escassez de comida no resto do mundo”. As respostas foram evasivas. Os políticos europeus não entenderam o que é “escassez”. Os africanos não sabiam o que era “comida”. Os argentinos nunca ouviram falar de “por favor”. Os cubanos desconheciam a palavra “opinião”. Os americanos ignoravam o significado de “resto do mundo”. Quanto aos políticos brasileiros, rum! continuam debatendo até hoje pra descobrir o que é “honestamente”.